9 de jan. de 2008

BOLA PRA FRENTE

Era uma vez um jogador de futebol muito talentoso e inteligente. Ele era São Paulino de coração e, para sua felicidade, jogou no time do Morumbi durante um longo período. Lá ele era feliz e seu talento era reconhecido. Suas qualidades eram exaltadas e ele não media esforços para fazer seu time estar sempre bem e conquistando títulos. Ele realmente não tinha do que reclamar, pois, no São Paulo, todos seus esforços eram celebrados e recompensados.

Ocorre que depois de tanto tempo, a relação Clube X Jogador acabou desgastada. Mesmo ele jogando bem e amando o escudo tricolor, seu contrato acabou sendo rescindido.

Durante algum tempo, ele ficou sem clube, desiludido com o futebol. Chegou até a pensar em encerrar sua carreira, o que felizmente não aconteceu, porque ele ainda tinha muito futebol pra mostrar e haviam vários clubes interessados no seu talento.

Justamente nesse momento, ele recebeu uma proposta do Santos, outro clube grande, tal qual seu clube do coração. O Santos estava com projetos ousados, investindo em capacitação e com uma estrutura aparentemente similar à do São Paulo. Ele pesou, refletiu muito e acabou assinando com o time da Vila. E lá foi ele, jogar na Vila Belmiro. Ele estava agora jogando no Santos, um clube tradicional, de qualificações admiráveis. "Não preciso mais do São Paulo. Minha vida é aqui no Santos", pensou ele durante algum tempo.

Ocorre que, logo após seus primeiros jogos no Santos, o Corinthians passou a sondá-lo, manifestando interesse no seu bom futebol. Então, na surdina, o Coringão passou a assediá-lo, com a promessa de um contrato extraordinário e vitalício.

O jogador, há tempos, já havia feito testes no Parque São Jorge e não tinha sido aprovado. Essa era a chance dele mostrar que podia jogar no Timão, que tinha tarimba pra encarar todas as cobranças da Fiel torcida e, acima de tudo, que tinha qualidade o suficiente pra superar a conhecida falta de estrutura do Timão. O contrato vitalício foi o detalhe que faltava para formar sua convicção. Ele pesou, refletiu muito e acabou se transferindo para o Corinthians, deixando o Santos a ver navios. Ficou com uma pontinha de remorço, mas jogar no Corinthians era um sonho antigo, que ele precisava realizar. Algo como um desafio pessoal.

E foi ele para o Parque São Jorge, feliz da vida com seu contrato vitalício. Entretanto, mal começaram os treinamentos e o Corinthians começou a pisar na bola. Mesmo ele jogando muito bem, os salários sempre atrasavam, a torcida criticava demais sua conduta intelectual e liberal. Ele não se adequou ao estilo de vida Corinthiano. Ele era disciplinado, dedicado e honesto. O Corinthians era mal administrado e estava envolvido em escândalos de corrupção e lavagem de dinheiro, o que batia de frente com seu impecável caráter.

Nesse momento, começou a sentir saudades dos clubes sérios pelos quais havia jogado. Foi quando o São Paulo Futebol Clube retornou aos seus pensamentos, mesmo porque o time do Morumbi nunca havia saído do seu coração. Ele até pensou no Santos, que também era manifestamente melhor que o Corinthians, mas como seu coração era São Paulino, ele decidiu que só deixaria o Parque São Jorge para voltar ao Morumbi ou para encerrar sua carreira.

Por conta de tudo isso, ele acabou desanimando e não conseguiu mais jogar o futebol vistoso de outrora. Já que suas jogadas diferenciadas não eram valorizadas, passou a fazer somente o arroz com feijão, apenas aguardando que a diretoria o liberasse pra negociar com outro clube. E foi o que acabou acontecendo. Num belo dia, seu contrato foi rescindido e ele foi liberado para negociar com outro clube. Por ser um vencedor inveterado, não admitiu sair pela porta dos fundos e até tentou uma reconciliação, o que não aconteceu. Era óbvio. Se ele já não agradava jogando bem, era impossível continuar no timão jogando mal como estava.

Depois disso, ele decidiu ficar um tempo afastado dos gramados, pois havia colhido muita mágoa e desilusão desde sua saída do São Paulo. Passou então a treinar sozinho, com muito suor e dedicação, sempre pensando em estar preparado para uma proposta do seu time de coração. Entretanto, o time do Morumbi estava em grande fase, com um bom elenco e um banco de reservas no mesmo nível. Ninguém tinha um futebol comparável ao seu, mas como o time estava papando vários títulos, a diretoria tricolor preferiu não alterar uma equipe que estava ganhando.

Mas o destino prega peças e, como sua passagem pelo São Paulo havia sido fantástica, a diretoria tricolor ainda o queria e precisava do seu talento. Foi quando, de repente, mais que repente, ele recebeu uma proposta para retornar ao Morumbi. Curiosamente, o Santos apareceu na jogada com uma proposta muito boa. O Corinthians também, ao perceber que o jogador estava novamente em forma, motivado e em ponto de bala, voltou a sondá-lo, ainda que extra-oficialmente.

O final dessa história eu ainda não sei, mas talvez esse jogador decida ir jogar na Europa, porque depois de tantas experiências, ele já se considera num nível superior aos times brasileiros em que jogou. Tem pensado no Real Madrid...